sexta-feira, 23 de março de 2012

Às vezes somos iguais


Características: cansaço, rostos magros, cabeças baixas.

Já ouvi diversas histórias com finais felizes e tristes de pessoas que foram acometidas pelo câncer, particularmente eu acredito na cura, mas, partindo de  um principio que a saúde em nosso país pede socorro, a possível cura vem carregada de espera, horas de viagem, madrugadas em claro.

As histórias são bem parecidas, as razões são bem adversas, o mito Poliana, da felicidade sob todas as circunstâncias as vezes cai, a maioria se concentra no individualismo de suas dores, em suas cadeiras brancas, as poucas palavras trocadas são com o acompanhante ao lado.

Aqui não vejo muitos jovens, fios de cabelos brancos e pele enrrugada são mais comuns, mas, percebo que nada mudaria se ao invés de pele enrrugada e cabelos brancos, as características fossem jovialidade e pouca idade.

Já ouviu falar de igualdade? Aqui ela existe, a prioridade é apenas uma questão de sequência, o um vem antes do dois, que vem antes do três e assim sucessivamente.

Outra particularidade, o quesito, idosos primeiro, não é válido, mesmo que na parede tenha uma placa que define prioridade de atendimento da seguinte maneira: 1- Gravidade da doença, 2- Idosos, 3-Crianças e Adolescentes, 4-Deficientes e Gestantes, a prioridade que prevalece é a do dormir menos, traduzindo: quem dormir menos e chegar mais cedo, pega a senha mais baixa e é atendido primeiro.

Acaba de passar por mim uma família, aparentemente, pai, mãe, avó e um bebezinho, que deve ter no máximo, cinco ou seis meses de vida, a dor do bebe deve ser a mesma dor do senhor que está ao  meu lado, com o diferencial que o bebe tem a vantagem de não saber o que se passa, as lágrimas ficam por conta da família.

Pior seria se a enfermeira fosse mal humorada, mas deste mal os pacientes não sofrem, Eliana aborda todos com um belo sorriso, acelera os trabalhos para de repente tentar diminuir o tempo de espera e quem sabe amenizar o sofrimento.

Depois de ler uma revista, com tempo de sobre e sem nada para fazer, saquei meu caderno da bolsa e resolvi relatar o que vejo, as palavras, podem até ser em vão, visto que elas não irão trazer o que todos aqui buscam, a cura. Mas, as palavras podem ser úteis para você que neste momento acabou de reclamar de uma dorzinha de cabeça, que neste minuto pensou em tirar a própria vida, ou você, que vive reclamando de barriga cheia, essas descrições são clichês, eu sei, mas é sempre bom lembrar né?

O reclamão de hoje pode ser o paciente terminal de amanhã, não que eu deseje isso para alguém, é ate errado eu disparar estas palavras, mas como isso não é uma palavra profética e sim uma observação, eu não me sinto mal em carregar no discurso.

Por tanto, pense duas vezes antes de reclamar, gaste seu tempo em orações, pensamentos positivos, e principalmente atitudes positivas, nada vai voltar, a luta e as conquistas são para serem lembradas, as lamentações para serem esquecidas, daqui para frente é tudo novo, o que passou de bom ou de ruim, são meras lembranças, o hoje é a tradução da sua vida.

Eu vou parar por aqui, o que eu acabei de ver renderia mais algumas páginas de relato, outra hora eu descrevo. Vou guardar meu caderno e observar mais um pouco, buscar no que está diante dos meus olhos, exemplos que me façam ser uma pessoa melhor, pela dor própria ou pela alheia, vou fazer do banco frio deste hospital uma cadeira escolar e aprender.

Que seu alivio não seja encontrado em comprimidos de morfina!



Cristiane Oliveira, 23 de março de 2012.
Local: Hospital Amaral Carvalho, corredor da radioterapia, ao lado do corredor da quimioterapia. (Acompanhando um paciente)


2 comentários:

  1. Cris,

    parabéns pela sensibilidade e pela forma com que conseguiu expressar tudo que viu. Força em mais esse desafio.

    Bjs,

    Nane

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  2. Não poderia ter lido num momento melhor! Obrigada por, mesmo sem saber, ter proporcionado clareza aos pensamento e ter ajudado a me sentir mais forte!

    "Batalha que se batalha sozinho é batalha perdida. Batalha que se batalha com outros é batalha que pode ser ganha."

    Um beijo,com muito carinho!

    Ieda

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