Características: cansaço, rostos
magros, cabeças baixas.
Já ouvi diversas histórias com
finais felizes e tristes de pessoas que foram acometidas pelo câncer, particularmente
eu acredito na cura, mas, partindo de um
principio que a saúde em nosso país pede socorro, a possível cura vem carregada
de espera, horas de viagem, madrugadas em claro.
As histórias são bem parecidas,
as razões são bem adversas, o mito Poliana, da felicidade sob todas as
circunstâncias as vezes cai, a maioria se concentra no individualismo de suas dores, em suas cadeiras brancas, as poucas palavras trocadas são com o acompanhante ao
lado.
Aqui não vejo muitos jovens, fios
de cabelos brancos e pele enrrugada são mais comuns, mas, percebo que nada
mudaria se ao invés de pele enrrugada e cabelos brancos, as características
fossem jovialidade e pouca idade.
Já ouviu falar de igualdade? Aqui
ela existe, a prioridade é apenas uma questão de sequência, o um vem antes do
dois, que vem antes do três e assim sucessivamente.
Outra particularidade, o quesito,
idosos primeiro, não é válido, mesmo que na parede tenha uma placa que define
prioridade de atendimento da seguinte maneira: 1- Gravidade da doença, 2-
Idosos, 3-Crianças e Adolescentes, 4-Deficientes e Gestantes, a prioridade que
prevalece é a do dormir menos, traduzindo: quem dormir menos e chegar mais
cedo, pega a senha mais baixa e é atendido primeiro.
Acaba de passar por mim uma
família, aparentemente, pai, mãe, avó e um bebezinho, que deve ter no máximo,
cinco ou seis meses de vida, a dor do bebe deve ser a mesma dor do senhor que
está ao meu lado, com o diferencial que
o bebe tem a vantagem de não saber o que se passa, as lágrimas ficam por conta
da família.
Pior seria se a enfermeira fosse
mal humorada, mas deste mal os pacientes não sofrem, Eliana aborda todos com um belo sorriso, acelera os trabalhos para de repente tentar diminuir o tempo de
espera e quem sabe amenizar o sofrimento.
Depois de ler uma revista, com
tempo de sobre e sem nada para fazer, saquei meu caderno da bolsa e resolvi
relatar o que vejo, as palavras, podem até ser em vão, visto que elas não irão
trazer o que todos aqui buscam, a cura. Mas, as palavras podem ser úteis
para você que neste momento acabou de reclamar de uma dorzinha de cabeça, que
neste minuto pensou em tirar a própria vida, ou você, que vive reclamando de
barriga cheia, essas descrições são clichês, eu sei, mas é sempre bom lembrar
né?
O reclamão de hoje pode ser o
paciente terminal de amanhã, não que eu deseje isso para alguém, é ate errado
eu disparar estas palavras, mas como isso não é uma palavra profética e sim uma
observação, eu não me sinto mal em carregar no discurso.
Por tanto, pense duas vezes antes
de reclamar, gaste seu tempo em orações, pensamentos positivos, e
principalmente atitudes positivas, nada vai voltar, a luta e as conquistas são
para serem lembradas, as lamentações para serem esquecidas, daqui para frente é
tudo novo, o que passou de bom ou de ruim, são meras lembranças, o hoje é a
tradução da sua vida.
Eu vou parar por aqui, o que eu
acabei de ver renderia mais algumas páginas de relato, outra hora eu descrevo.
Vou guardar meu caderno e observar mais um pouco, buscar no que está diante dos
meus olhos, exemplos que me façam ser uma pessoa melhor, pela dor própria ou
pela alheia, vou fazer do banco frio deste hospital uma cadeira escolar e
aprender.
Que seu alivio não seja
encontrado em comprimidos de morfina!
Cristiane Oliveira, 23 de março de 2012.
Local: Hospital Amaral Carvalho, corredor da radioterapia, ao lado do corredor
da quimioterapia. (Acompanhando um paciente)