sexta-feira, 30 de março de 2012

Enfim, sexta-feira


Passei a semana toda pensando que sexta-feira seria meu dia de acompanhar meu pai no hospital, as sextas- feiras são um pouco mais tumultuadas que os outros dias, existem mais pessoas para serem atendidas, e por mais que você use a tática do dormir menos, com certeza a espera será longa.

Durante a semana passaram vários fashes na minha mente, de como seria passar por aqueles corredores novamente, o que eu veria, com quem falaria? Enfim, como seriam as horas ali.

Pensei em escrever mais um pouco sobre a experiência, dividir meus sentimentos e aprendizagem com os que lerem este blog, creio que nada é em vão para àqueles que mantem os ouvidos e o coração bem abertos e se prostram à receber algo novo em sua vida.

Mas, por um acaso, eu precisei fazer uma viagem à trabalho e acabei chegando muito tarde, sendo assim, sem condições físicas para pegar estrada de madrugada e passar horas ali no hospital, aliás, isso foi mais por uma decisão da minha mãe do que minha, eu, para falar a verdade, não via a hora de estar naquele local de novo, em meio a dores, cansaços e desânimo de alguns, eu encontrei um gás, encontrei ensinamento.

As horas ali, não são nenhum pouco monótonas, passam bem rápido, entre um silêncio, uma volta no corredor e alguns diálogos, você vê os minutos irem avançando, tudo é uma questão de ponto de vista. Pode ser que para mim seja bem mais fácil, afinal eu não estou com dores físicas, eu tenho a mania de sempre ver as situações por um ângulo positivo e ando sempre carregada de entretenimentos como por exemplo: celular cheio de músicas, livros, revistas, caderno e caneta para escrever, tenho uma facilidade para relacionar-me com pessoas que não conheço, enfim, pode ser que este arsenal cultural me faça não ver a lentidão dos ponteiro e me sentir mais à vontade.

Sem mais delongas, hoje vou parando por aqui mesmo, mas infelizmente a história ainda não acabou, sei que passarei muitas vezes ainda por àquele hospital e peço a Deus que mantenha em mim o discernimento e a positividade para lapidar os momentos e fazer  com que das situações duras e rudes brotem palavras que sejam como diamantes para quem ler, cheias de valor, beleza e sensibilidade.

Amém!!




segunda-feira, 26 de março de 2012

O SHOW do Criolo


Se eu pudesse descrever o show do Criolo em uma palavra, o termo que eu usaria é: Escândalo.

Um Escândalo poético e de interpretação, leve e forte na mesma proporção, daqueles momentos que você tem certeza que não haverá outro em sua vida, único.

A plateia pouco democrática mais bem calorosa, cantou principalmente as clássicas do CD "Nó na orelha", na hora dos Raps mais antigos o coro afinava, poucos guerreiros se arriscaram à sair de suas casas e se misturar. Eu como não sofro deste mal, e sou convicta de que meu corpo pode ocupar o lugar que eu desejar nesta terra de Meu Deus, vesti meu tênis num lok tipo menininha comportado e despojada e me posicionei nas primeiras fileiras, para sentir a real emoção do momento, ver de perto as expressões, os risos, os improvisos, enfim, sentir o cheiro do Criolo e de sua equipe.

Voltei para casa tranquila e feliz, sem peso na consciência de ter pago de tiete, daquelas que pede autografo na capa do CD, tira foto com o ídolo e ainda leva presente para o artista [eu fiz tudo isso].



sexta-feira, 23 de março de 2012

Às vezes somos iguais


Características: cansaço, rostos magros, cabeças baixas.

Já ouvi diversas histórias com finais felizes e tristes de pessoas que foram acometidas pelo câncer, particularmente eu acredito na cura, mas, partindo de  um principio que a saúde em nosso país pede socorro, a possível cura vem carregada de espera, horas de viagem, madrugadas em claro.

As histórias são bem parecidas, as razões são bem adversas, o mito Poliana, da felicidade sob todas as circunstâncias as vezes cai, a maioria se concentra no individualismo de suas dores, em suas cadeiras brancas, as poucas palavras trocadas são com o acompanhante ao lado.

Aqui não vejo muitos jovens, fios de cabelos brancos e pele enrrugada são mais comuns, mas, percebo que nada mudaria se ao invés de pele enrrugada e cabelos brancos, as características fossem jovialidade e pouca idade.

Já ouviu falar de igualdade? Aqui ela existe, a prioridade é apenas uma questão de sequência, o um vem antes do dois, que vem antes do três e assim sucessivamente.

Outra particularidade, o quesito, idosos primeiro, não é válido, mesmo que na parede tenha uma placa que define prioridade de atendimento da seguinte maneira: 1- Gravidade da doença, 2- Idosos, 3-Crianças e Adolescentes, 4-Deficientes e Gestantes, a prioridade que prevalece é a do dormir menos, traduzindo: quem dormir menos e chegar mais cedo, pega a senha mais baixa e é atendido primeiro.

Acaba de passar por mim uma família, aparentemente, pai, mãe, avó e um bebezinho, que deve ter no máximo, cinco ou seis meses de vida, a dor do bebe deve ser a mesma dor do senhor que está ao  meu lado, com o diferencial que o bebe tem a vantagem de não saber o que se passa, as lágrimas ficam por conta da família.

Pior seria se a enfermeira fosse mal humorada, mas deste mal os pacientes não sofrem, Eliana aborda todos com um belo sorriso, acelera os trabalhos para de repente tentar diminuir o tempo de espera e quem sabe amenizar o sofrimento.

Depois de ler uma revista, com tempo de sobre e sem nada para fazer, saquei meu caderno da bolsa e resolvi relatar o que vejo, as palavras, podem até ser em vão, visto que elas não irão trazer o que todos aqui buscam, a cura. Mas, as palavras podem ser úteis para você que neste momento acabou de reclamar de uma dorzinha de cabeça, que neste minuto pensou em tirar a própria vida, ou você, que vive reclamando de barriga cheia, essas descrições são clichês, eu sei, mas é sempre bom lembrar né?

O reclamão de hoje pode ser o paciente terminal de amanhã, não que eu deseje isso para alguém, é ate errado eu disparar estas palavras, mas como isso não é uma palavra profética e sim uma observação, eu não me sinto mal em carregar no discurso.

Por tanto, pense duas vezes antes de reclamar, gaste seu tempo em orações, pensamentos positivos, e principalmente atitudes positivas, nada vai voltar, a luta e as conquistas são para serem lembradas, as lamentações para serem esquecidas, daqui para frente é tudo novo, o que passou de bom ou de ruim, são meras lembranças, o hoje é a tradução da sua vida.

Eu vou parar por aqui, o que eu acabei de ver renderia mais algumas páginas de relato, outra hora eu descrevo. Vou guardar meu caderno e observar mais um pouco, buscar no que está diante dos meus olhos, exemplos que me façam ser uma pessoa melhor, pela dor própria ou pela alheia, vou fazer do banco frio deste hospital uma cadeira escolar e aprender.

Que seu alivio não seja encontrado em comprimidos de morfina!



Cristiane Oliveira, 23 de março de 2012.
Local: Hospital Amaral Carvalho, corredor da radioterapia, ao lado do corredor da quimioterapia. (Acompanhando um paciente)